quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Por mais sensibilidade e menos invencionismos baratos na publicidade

Durante muitos anos, mais ainda nestes últimos, tenho notado, cá no interior de sampa (e no interior do país, como um todo), uma fissura boba pelos comerciais produzidos nas "capitar". E nas "capitar", talvez, uma fissura boba pelos bobos, ocos e modernosos comerciais produzidos no exterior - há merda, e muita merda produzida na Europa, nos EUA e em meio aos tigresinhos asiáticos, tenha certeza.

Sei lá, isso pode ser complexo de inferioridade, síndrome de jacuzice aguda ou, simplesmente, falta de senso crítico...

Caramba, se formos analisar, friamente, o que tem sido feito nos grandes centros, em nível mundial - com RARAS exceções, é bom que se diga - periga sairmos correndo em direção ao primeiro vaso sanitário disponível. Ter que aguentar, cá no país do molusco, coisas como "Cachorro Peixe" (Fox Station ou Station Fox, sei lá), "Blue" (Tim), aqueles vetês patéticos da Skol e dezenas de outras bobagens sem nexo, sem apelo e sem idéias centrais deveria desestimular, não nortear...

Há tempos, apesar de ser um apaixonado pelo meu ofício de redator/criativo, tenho notado, claramente, um processo contínuo de imbecilização na área. Percebo que, por mais pesquisinhas e numerozinhos que tenham infestado o negócio da propaganda, alguns "publiciotários" deixaram, no meio do caminho, de PERCEBER GENTE. Criam coisas estafúrdias e "desumanas" e, não raro, subestimam a inteligência alheia. Pior, amparam-se em clichês ainda mais ridículos que as peças que concebem para defendê-las. "Quebrar paradigmas", "inovar", "buscar a vanguarda", dentre outras pérolas da falta de sensibilidade e de talento, direcionam brainstorms e apresentações de campanhas por aí. Mas, sinceramente, acho tudo isso um grande teatro de mau gosto, em que a agência finge que manja, e o cliente finge que compreende a argumentação. A curto prazo, arrisco, este tipo de postura mais servirá para afastar produtos do consumidor do que para aproximar novos clientes das agências...

E por um motivo muito simples: quanto mais se busca "diferenciar" a comunicação, mais homogênea e sem graça ela se torna. Afinal, tá todo mundo buscando o raio do "diferente", oras. Hoje, sobretudo na cabeça dos mais novos, a neurose pela vanguarda e por idéias supostamente geniais e ultrassuperhipersacadinhas chega a irritar. Pô, será que essa molecada - e quem dirige essa molecada - ainda não sacou que gente gosta de ser tratada como gente, e não como um produto descartável, desses que vimos anunciados o tempo todo?

O imediatismo, a urgência em se substituir uma porcaria de agora por outra porcaria que surgirá depois de amanhã, o espírito quase antropofágico de competitividade e a apologia extremamente imbecil à juventude colaboram, claro, para que a publicidade se torne cada vez mais ininteligível. Afinal, ela, a publicidade, reverbera a cultura (ou a falta desta) popular, e não o inverso. Mas, cacete, penso que ela poderia - e até deveria - lançar mão de seu poder de fogo e de massa para, mesmo que em simples anúncios de varejo, ajudar a melhorar o nível das relações humanas. Que tal chamadas e títulos menos agressivos e vazios? Que tal mais textos coloquiais e menos falta do que dizer? Que tal mais mensagens bacanas, inteligentes, amenas e cativantes, como a atual campanha da Perdigão, e menos venda de conceitos estúpidos e egoístas como os ressaltados no comercial do Ford Fusion, por exemplo?

Enfim, e pra voltar ao título do post, penso que a galera que trabalha com propaganda por aqui, no interior, deveria aproveitar a deixa para se valorizar e fugir de parâmetros de comunicação tão inconsistentes. Lidar com limitações de verba e de produção, mesmo que se tenha que lidar, também, com as cabeças tacanhas de "certos alguns", pode, por increça que parível, nos tornar a todos, redatores e diretores de arte, bem mais criativos e maduros. Aprender a falar às pessoas sem o advento da tecnologia de ponta, sem ter que apelar para o exagero estético ou para produções zilhionárias em computação gráfica, é bem mais importante do que reparar no que anda sendo (mal) feito pelas agências mais, digamos, fodonas. Se a tendência é a demência, tô foraço!

Penso eu. Pense o que quiserem...

2 comentários:

  1. Pensava assim tb, brother, mas sabe qual é a parada?
    O problema não é da agência, nem dos freaks e mongolóides criativos, nem do planejamento, nem da crise mundial... A raiz do problema é o cliente!

    É o cliente que aprova esses lixos.

    Percebo isso como ex-dono de agência em Sampa. Vi que no geral é tudo igual, tanto para as pequenas como para as grandes agências.

    Em empresas grandes ou multinacionais nós atendemos um gerentinho de marketing/produto, que na maior parte dos casos tem baixa ou nenhuma formação em Marketing e Comunicação. Muitos desses são oriundos das áreas de vendas.

    Como esses gerentes estão inseridos na cultura tosca nacional, na baixa qualidade dos cursos universitários e na falta de leitura, qualquer ideia que apresentemos contendo marketing emocional e um forte conceito é rejeitada. Na cabeça desses executivos "propaganda legal" é aquela que é "engraçada" (mas que o consumidor não lembra a marca no final dos 30').

    Se o gerente for homem, é só enviar uma contato gostosa e bem arrumada da agência que qq lixo será aprovado. Se a gerente é mulher é mais fácil tentar vender alguma ideia melhor e com conteúdo, mas ela só consegue aprovação caso seja gostosa, pq se for feia o diretor de marketing dela nunca dará a canetada final. Se ela for bonita aí depois ele descola um jantar pra discutir a campanha...

    Tem mais. Nós que éramos pequenos ainda sofríamos uma concorrência desleal: agências grandes e médias tinham mesas cativas nos principais puteiros de luxo da capital. Café Photo, Bahamas, etc, para convencer os clientes.

    Em empresas médias e pequenas é pior: você lida direto com o dono/empresário e com a secretária dele. Nem preciso comentar, pois todos do interior lidam com este tipo de cliente.

    Graças a Deus consegui sair deste mundo pra nunca mais! Agora trabalho com Odontologia... hahaha! Fui!

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