quinta-feira, 20 de agosto de 2009

DADGAD: portais abertos

Há uns 4 anos, depois que um camarada em especial, o Fernando Bernardino, me passou a afinação Open G (sol aberto), descobri um mundo novo de possibilidades e rara beleza. O mundo das "afinações abertas".

Procurando montar acordes, ou desconstruí-los, melhor dizendo, me deparei com muito mais simplicidade e ressonâncias. Menos é mais, mais silêncio e menos rebuscagens. Afinações abertas, para quem tem referências e sensibilidade à flor dos dedos, é um mundo à parte. E que parte em direção a mundos inexplorados até então.

Testei várias. E a mais, digamos, versátil, me pareceu mesmo ser a Open G (DGDGBD). Zeppelin, The Black Crowes, Stones, southern rock, blueseiras e folkeiras caem como uma luva. Mas o mais bacana é criar, por mais simplórias que sejam as criações. Essas afinações "open" soam como aditivos pro's neurônios...

A DGCGCD, de clima arabesco, exótica pra caramba, é outro convite aos desdobramentos criativos. Me soa mais complexa, e não tão alegre e usual. Manjo pouquíssimo de teoria musical, mas imagino que, por se tratar de uma combinação que resulta em tom menor, a DGCGCD arrasta uma asinha para a melancolia, para a tensão, para o misticismo. Se não me engano, em "Rain Song", Jimmi Page usou tal afinação.

O ré aberto, DADGA#D (creio), também é muito interessante. Mas mais blueseiro, pelo menos na minha opinião. Há uma infinidade de outras combinações, e todas repletas de surpresas agradáveis. Basta que se tenha bom senso, um pouco de paciência e algumas idéias na cabeça. Feito isso, se está feito!

Nem é necessário dizer que a maioria dessas afinações chama um bom slide. Um pouco de prática e muito ouvido, e pronto: num curto espaço de tempo estamos deslizando vidros e metais com naturalidade pelo braço de violas e guitarras...

Mas, na verdade, o que me motivou a escrever o texto foi a DADGAD. Faz uns 15 dias que a "descobri", e já a considero tão fundamental quanto a Open G. Tão viciante quanto, só que mais tinhosa. Há que se procurar mais pelos acordes. O som é lindo e inspirador, e também me parece bem zeppelineana. Na base dos erros e de alguns acertos, e da intuição quase que nada respaldada pelo conhecimento teórico, tenho composto alguns temas. Talvez a DADGAD se situe entre a DGDGBD e a DGCGCD, no que tange à versatilidade e à conotação. É blueseira e oriental ao mesmo tempo, vibrante e melancólica, suave e tensa.

Baita sonoridade, vale testar.

Seguem uns links, todos com o violão de 6 cordas em DADGAD:
http://www.youtube.com/watch?v=qA3nohv33dE&fmt=18
http://www.youtube.com/watch?v=kgxAb_fLsBE&feature=channel_page&fmt=18
http://www.youtube.com/watch?v=eqli4lxIHkw&fmt=18


Tudo de bom e de som.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Por mais sensibilidade e menos invencionismos baratos na publicidade

Durante muitos anos, mais ainda nestes últimos, tenho notado, cá no interior de sampa (e no interior do país, como um todo), uma fissura boba pelos comerciais produzidos nas "capitar". E nas "capitar", talvez, uma fissura boba pelos bobos, ocos e modernosos comerciais produzidos no exterior - há merda, e muita merda produzida na Europa, nos EUA e em meio aos tigresinhos asiáticos, tenha certeza.

Sei lá, isso pode ser complexo de inferioridade, síndrome de jacuzice aguda ou, simplesmente, falta de senso crítico...

Caramba, se formos analisar, friamente, o que tem sido feito nos grandes centros, em nível mundial - com RARAS exceções, é bom que se diga - periga sairmos correndo em direção ao primeiro vaso sanitário disponível. Ter que aguentar, cá no país do molusco, coisas como "Cachorro Peixe" (Fox Station ou Station Fox, sei lá), "Blue" (Tim), aqueles vetês patéticos da Skol e dezenas de outras bobagens sem nexo, sem apelo e sem idéias centrais deveria desestimular, não nortear...

Há tempos, apesar de ser um apaixonado pelo meu ofício de redator/criativo, tenho notado, claramente, um processo contínuo de imbecilização na área. Percebo que, por mais pesquisinhas e numerozinhos que tenham infestado o negócio da propaganda, alguns "publiciotários" deixaram, no meio do caminho, de PERCEBER GENTE. Criam coisas estafúrdias e "desumanas" e, não raro, subestimam a inteligência alheia. Pior, amparam-se em clichês ainda mais ridículos que as peças que concebem para defendê-las. "Quebrar paradigmas", "inovar", "buscar a vanguarda", dentre outras pérolas da falta de sensibilidade e de talento, direcionam brainstorms e apresentações de campanhas por aí. Mas, sinceramente, acho tudo isso um grande teatro de mau gosto, em que a agência finge que manja, e o cliente finge que compreende a argumentação. A curto prazo, arrisco, este tipo de postura mais servirá para afastar produtos do consumidor do que para aproximar novos clientes das agências...

E por um motivo muito simples: quanto mais se busca "diferenciar" a comunicação, mais homogênea e sem graça ela se torna. Afinal, tá todo mundo buscando o raio do "diferente", oras. Hoje, sobretudo na cabeça dos mais novos, a neurose pela vanguarda e por idéias supostamente geniais e ultrassuperhipersacadinhas chega a irritar. Pô, será que essa molecada - e quem dirige essa molecada - ainda não sacou que gente gosta de ser tratada como gente, e não como um produto descartável, desses que vimos anunciados o tempo todo?

O imediatismo, a urgência em se substituir uma porcaria de agora por outra porcaria que surgirá depois de amanhã, o espírito quase antropofágico de competitividade e a apologia extremamente imbecil à juventude colaboram, claro, para que a publicidade se torne cada vez mais ininteligível. Afinal, ela, a publicidade, reverbera a cultura (ou a falta desta) popular, e não o inverso. Mas, cacete, penso que ela poderia - e até deveria - lançar mão de seu poder de fogo e de massa para, mesmo que em simples anúncios de varejo, ajudar a melhorar o nível das relações humanas. Que tal chamadas e títulos menos agressivos e vazios? Que tal mais textos coloquiais e menos falta do que dizer? Que tal mais mensagens bacanas, inteligentes, amenas e cativantes, como a atual campanha da Perdigão, e menos venda de conceitos estúpidos e egoístas como os ressaltados no comercial do Ford Fusion, por exemplo?

Enfim, e pra voltar ao título do post, penso que a galera que trabalha com propaganda por aqui, no interior, deveria aproveitar a deixa para se valorizar e fugir de parâmetros de comunicação tão inconsistentes. Lidar com limitações de verba e de produção, mesmo que se tenha que lidar, também, com as cabeças tacanhas de "certos alguns", pode, por increça que parível, nos tornar a todos, redatores e diretores de arte, bem mais criativos e maduros. Aprender a falar às pessoas sem o advento da tecnologia de ponta, sem ter que apelar para o exagero estético ou para produções zilhionárias em computação gráfica, é bem mais importante do que reparar no que anda sendo (mal) feito pelas agências mais, digamos, fodonas. Se a tendência é a demência, tô foraço!

Penso eu. Pense o que quiserem...

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

A procura de paz de espírito

É, os vinte voaram, os trinta cavalgaram e, de repente, me vejo batendo à primeira porta dos "enta". Os quarentinha estão chegando, estão chegando os querentinha...

Depois de uns meses de inferno astral, que se estenderá, dizem, até a data precisa do meu aniversário, resolvi deixar certas neuras para trás e, sem grandes ilusões, trazer à tona as vantagens de se chegar a essa idade.

Uma delas, indiscutivelmente, é a interação com o saco. Hoje, muito mais do que ontem e anteontem, saquei que, finalmente, entendi meu saco. E ele, provavelmente, a mim. Há um tempo, tolo e pretensioso, eu o desafiava. Ora em baladas noturnas, repletas de gente que não me dizia respeito e música que me virava o estômago, ora por meio de sorrisinhos hipócritas que me via obrigado a dar...

E o saco, coitado, ainda pouco enrugado, nada podia fazer, a não ser encolher e recolher-se. Foram dias, meses e anos de pé no saco. Mesmo assim, otimista, o saco enchia-se de esperança.

Bom, o que quero dizer, basicamente, é o seguinte: tenho notado que chegar aos quarenta simplifica muita coisa. Perde-se o receio de se expor com franqueza, perde-se um pouco do pudor - mas não meramente por rebeldia - ganha-se mais senso de humor, mais segurança para se dizer besteiras (como é o caso, agora) e, sobretudo, passa-se a ter muito mais noção de finitude...

Nada mórbido, não. Muito pelo contrário. É que, em se tendo tal noção mais apurada, a gente meio que desencana de bater de frente. Se não desencana totalmente, pelo menos diminui bastante o impacto. Tudo passa a soar mais como piada e menos como urgência. Máscaras caem, poses despencam e as preocupações comportamentais de alguns passam a nos arrancar solenes gargalhadas. Sei lá, mas tenho começado a sacar uma gostosa sensação de desprendimento diante da grande babaquice que nos assola a todos...

É claro que meu saco, mesmo com aparência de morto, ainda continua vivo. Que o diga seu companheiro mais próximo. Mas, em verdade vos digo: depois que passei a aceitar os 40tão - até pq., não tem outro jeito mesmo - parece que me aproximei do que as pessoas mais carismáticas e interessantes costumam chamar de "paz de espírito".

Mesmo que os nervos, vez ou outra, retornem à flor da pele, em função das acefalias e injustiças que predominam em nosso cotidiano, noto que, com muito mais facilidade e eficácia, consigo me acalmar, abstrair, sopesar e seguir em frente.

E em hipótese nenhuma, que fique claro, quero comparar maturidade e calma com alienação e aceitação total. Mas as coisas, me parece, tornam-se mais departamentalizadas a partir da quarta década de existência.

Acho que é isso, ou quase isso, ou mais ou menos isso.

Pra fechar, um sonzinho tosco, "In Search Of The Peace Of Mind", d'minha autoriamesss...


terça-feira, 11 de agosto de 2009

Fishman Aura Dreadnought

Primeira postagem. Primeira coisa que me veio à cabeça.

Há anos, e em vão, buscava um equipo que tornasse menos imbecil e "fake" (porra, finalmente encontrei aplicação pro termo) o som do violão plugado. Algo que fizesse calar aquele timbre de pato, sabe?

Pois bem, depois de passar pra frente um amplificador específico de violão, o Ibanez Troubador TA-225 (2 falantes de 10 polegadas), e de tornar-me partidário do esquema "em linha", fui, aos poucos, desencanando totalmente de espetar minhas violas.

Para gravar os vídeos caseiros que regularmente gravo, nada como um microfone que capte os verdadeiros sons dos instrumentos. Se for condensador, ainda melhor. Eu usava - e vou continuar usando, claro - o modesto Behringer C-2, pequeno mas bastante eficiente.

Mas eis que, dois meses atrás, me surge, quase que completamente do nada, uma boa e rara oportunidade de testar o Fishman Aura. Trata-se de um pedal que acondiciona 16 "imagens sonoras" - termo usado pela própria Fishman - devidamente captadas em estúdio. Diferentes microfones e posicionamentos de microfones foram usados. Mas nada é especificado em manuais, o que faz com nossos ouvidos, e apenas eles, dêem o veredicto sobre quais "imagens sonoras" soam mais bacanas.

O negócio é muito simples: um controle de volume do sinal, um controle de mistura do sinal e, obviamente, um seletor de "imagens sonoras". Depois de alguns dias testando o pedal, meio que defini dois ajustes básicos para usar o Fishman Aura Dreadnought. Para tocar, mantenho o controle de volume em 3h (cerca de 75% de rotação), fazendo prevalecer o timbre do pedal sobre os outros periféricos - no meu caso, o preamp valvulado Behringer Tube Ultragain Mic100 e o mixer Behringer UB502. O controle Blend, que mistura o sinal do pedal ao preamp do violão, fica na casa das 12h (50%). Deste modo, obtenho uma sonoridade encorpada mas muito mais natural e ressonante do que se prevalecesse apenas o timbre do piezo.

Para gravar, aí sim, o negócio é não economizar na rotação do Blend. Vai muito bem dos 75% em diante. E aí, camaradas, não há como negar: a tecnologia empregada pela Fishman neste e em todos os outros equipamentos que levam a assinatura "Aura" é, simplesmente, SENSACIONAL!

Tudo bem que o "calor" da captação obtida por um microfone ainda é imbatível. Mas o nível de realismo, corpo sonoro e praticidade que este pedal proporciona é assustador. Convence, emociona e tem beleza de sobra para conquistar até aos mais pentelhos, como eu.

Vale cada centavo do que cobram por ele.

No vídeo, Roxy Guitar RG1 e Tayler Dreadnought, equipados, respectivamente, com os preamps Artec ASE-4 (espartano mas timbrável, sim, senhor) e Fishman Classic 4T Deluxe (muito bom). O pedal Fishman Aura estava na seguinte configuração: VOLUME 3h / BLEND 12h. Apenas um teminha simples, usando slide no Tayler, afinado em Open G.

Abração.